Meu coração de criança
Me levou a lugares sombrios.
Me fez perder em desertos,
acreditar em miragens
e cair em abismos.
Meu coração de criança só procurava abrigo
mas permanece em abandono ,
procurava a verdade e foi confundido por mentiras, procurava um lar e viveu sozinho,
procurou a paz e achou vazios,
sangrando feridas abertas sem cuidado, sem remédio...
Minha pobre criança ...ela agoniza.
Não há quem a possa resgatar, porque não há quem a queira,
não há quem a reconheça
ou quem sabe talvez ninguém de fato a enxergue.
Sinto ela soltar minhas mãos como quem desfalece de cansaço,
como quem não quer se despedir mas não encontra mais sentido para ficar...
Momento de aceitar a verdade inexorável e lancinante
do luto que não se quer viver,
que não é justo mas é inevitável
como uma verdade que não há como contestar.
Ao que sobrar de mim ficará a certeza de continuar,
sem tanta esperança, sem tanta fé na vida,
sem muitos sorrisos,
mas honrando a memória da criança
que até outro dia viveu em mim,
guardando na alma as lições que ela me ensinou
e a ternura que outras crianças hão de precisar
nos desertos do caminho.
