O meu espaço de compartilhar música, poesia e sonhos ...

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"O QUE SERÁ DE NÓS
SE ESTIVERMOS CANSADOS
DA VERDADE,DO AMOR?"
(Márcio Borges)

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A palavra como arma...e a canção como escudo. Sempre.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Luas

Karla Coelho

Sou filha da lua, 
Herdei sua sina 
De ter minha existência 
Desenhada por luz e sombra. 
Flutuo no espaço e no tempo 
Que passa e deixa marcas, 
Apaga outras, 
Muda a sombra de lugar... 
E a cada instante 
Sou o claro e o escuro, 
A alegria e o medo, 
O prazer e a dor, 
Força e culpa, 
Fé e amargura, 
Certeza e desatino. 
Descubro-me tantas... 
A cada lua 
Todas as luas estão em mim, 
Todas se mostram 
No giro contínuo 
Da minha órbita imprecisa. 

Sou filha da lua, 
Uma pequena partícula de luz e sombra.
Quisera fosse como ela, invulnerável, 
Quisera tivesse herdado sua eternidade. 
Porém, sendo eu dona de um corpo mortal e uma alma inquieta 
Quero ser lembrada pela luz que refleti 
E ser perdoada 
Pela sombra que causei. 
Tal qual minha mãe luminosa que se vai ao amanhecer 
Mas deixa sua marca 
Na alma dos poetas, 
Quero deixar de herança quando me for 
A minha poesia 
Ecoando para sempre 
No coração dos homens que amam, 
Que sonham, 
Que buscam com todo o fervor 
Encontrar a luz implícita 
No universo profundo e obscuro 
De todos nós. 

 Escrito em 31/08/2007

Marcas

Marcas
Karla Coelho

Eu tenho a te oferecer apenas meu corpo
Marcado com as marcas que o tempo deixou.
Com traços desenhados no canto dos lábios,
Denunciando cada sorriso que eu ofereci pelo caminho,
E um sulco entre as sobrancelhas
Lembrando-me dos temores que me assaltaram os dias
E me fizeram varar noites sem dormir.
O ventre com as marcas de quem gerou outra vida
Gerada da entrega que se fez por amor,
Amor que um dia eu amei.
As mãos machucadas
De quem já deu murro em ponta de faca,
De quem não teve medo da luta
E lutou desarmada.
Os olhos que viram muito,
Choraram muito
E por vezes não quiseram crer no que viram
Mas ainda buscam por possíveis belezas,
E ainda esperam encontrar seu reflexo em outros olhos
Ávidos de amor.


Guardada neste corpo que eu te ofereço,
Vive uma alma que teimou em querer não envelhecer,
Carregada de sonhos que eu insisti em guardar
Prá talvez usufruir num futuro
Quiçá próximo e sempre tão distante
De onde estou.
Uma alma de mulher
Que se oferece ao teu querer
Apaixonadamente,
Kamikaze como toda paixão nos insufla a ser,
E se expõe ao teu amor ou à tua indiferença,
Pressente tua presença, deseja tua pele morna
Aquecendo o meu frio de muitos invernos...
Este corpo e esta alma
Querem guardar em si uma marca tua,
E deixar em ti a sua marca também
Para um dia, depois de toda a espera,
Eu poder talvez (e que bom seria...)
Encontrar ao te fitar, a minha imagem refletida
No fundo dos teus olhos brilhando,
Ávidos do meu amor...
*****
escrito em 09/10/07

Baile de Máscaras

Karla Coelho
A manhã chega, e ao despertar,
Antes mesmo de ter tempo para me lembrar de quem sou,
Meu filhinho chora e me lembra wue sou mãe...
Lembro-me também que está na hora de vestir meu uniforme de trabalho,
Mil atribuições esperam por mim.
Pausa para o cafezinho? Nem pensar...
Há tantas causas pelas quais lutar,
Bandeiras a defender,
Portanto, apresso-me
E visto as roupagens da militância.
Ao anoitecer, já cansada, exaurida,
Alguém me lembra que não posso fraquejar.
Há quem precise da minha força,
Tenho o dever de resistir.

Pela madrugada adormeço
E então, só então me é dado o direito
De me lembrar de mim.
Então sonho...
Sonho que me dispo de tudo,
De todas as roupagens, de todos os papéis
E danço, sob a luz de um sol de verão
À beira-mar
Apenas para me fazer feliz.
A criança solitária, esquecida por detrás de tantas máscaras
Agora se permite todas as alegrias.
O sol a aquece, o vento a embala,
O mar canta para ela,
E quando se dá conta
Todos a quem ama estão ao seu redor, sem nada pedir.
A alegria de cada um está tão-somente em ver
O sorriso e o brilho no olhar daquela menina
Que eles enfim conseguem enxergar.

Um ruído me faz despertar
De todo o encantamento:
O despertador me faz lembrar
Que está na hora de recomeçar o baile de máscaras...
E a triste criança travestida levanta-se
Para enfrentar mais um dia.

Escrito em 2005.

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